Página da rádio estatal russa polemiza sobre animes e suicídios



Na última quarta-feira, o site da rádio Golos Rossii
(A Voz da Rússia), de propriedade do governo da federação, publicou uma
matéria que promete incomodar quem gosta de anime, a começar por seu
título, Animes podem mesmo provocar suicídio?.

Segundo a
reportagem, em dez dias, seis crianças e adolescentes teriam se
suicidado. As reações negativas à publicação começam no próprio site da
rádio. A proporção de pessoas que avaliou o texto negativamente é
enorme.



“Todos eles eram de boas famílias e todos iam bem na escola. E, o
mais interessante, muitos deles eram fãs de animes.
O que leva a
geração do iPad e do Twitter a acabar com a própria vida?
”, diz a atrapalhada introdução da notícia. Uma psicóloga consultada pela página chega a opinar, mas reforça o nível de asneira:





“Claro que o anime por si mesmo não pode ser a causa de suicídios
de adolescentes. Mas ele é uma arte visual que atrai muitos adolescente
e que intensificam todos os seus sentimentos. E a morte, o heroísmo da
morte que é típico da cultura japonesa muito mais do que nas outras
culturas, muitas vezes serve como uma medida de amizade ou lealdade.
Pular do alto juntos segurando as mãos um do outro é bem típico do
comportamento de garotas. Aventuras heróicas de garotas, histórias de
amizades inseparáveis entre garotas — são todas histórias de animes.
[...]”







Olga Makhovskaya, psicóloga




A Voz da Rússia sucede a Rádio Moscou, grande difusora da antiga
União Soviética, cujas transmissões eram feitas em várias línguas. Em
países da extinta república comunista, como Lituânia, Cazaquistão e
Belarus, os índices de suicídio superam os do Japão. No entanto, quanto
aos casos na população feminina, o Japão só é superado pela Coréia do
Sul.




Há anos os animes são envolvidos involuntariamente em casos
polêmicos. Os mais velhos, que assistiram às primeiras temporadas de Pokémon e a Digimon lembram-se
da velha pregação de que “desenho japonês é coisa do diabo”. Em 17 de
junho de 2007, uma ingrata reportagem exibida pelo programa Fantástico, da Rede Globo,
vinculou a inconsequente fuga de um casal de adolescentes brasileiros,
proibidos por seus pais de namorar, à sua paixão pelos animes. Três
meses depois, na Bélgica, uma pessoa foi assassinada por alguém que
redigiu num bilhete a frase “Watashi wa Kira desu” (“Eu sou o Kira”), em referência ao anime Death Note. E, no início de 2008, dois meninos, um na Indonésia e outro nos Estados Unidos, tentaram imitar cenas de Naruto sem se impor limites: a primeira enforcou-se e a segunda, ao tentar brincar de Gaara,
enterrou sua cabeça na areia, não percebendo que isso o mataria. Na
época, um parlamentar indonésio criticou a Comissão de Teledifusão da
Indonésia por permitir que fosse transmitido algo que “tem violência e
fez um menino tirar sua própria vida”.




As histórias em quadrinhos americanas, na década de 1950, passaram
por perseguição muito mais séria e repercutente, por causas menos
trágicas. O psiquiatra alemão Fredric Wertham publicou, em 1954, Seduction of the Innocent,
o mais relevante livro que crucificava as HQs por estas supostamente
serem más influências às crianças, incitando a delinquência e, como se
fosse possível, a homossexualidade. Foi nesse livro que foi escancarada,
pela primeira vez, o suposto relacionamento entre Batman e Robin.
E, por influência da obra, foi criado o selo Comics Code Authority, que
proibiu uma série de temas polêmicos aos quadrinhos mais vendidos, como
excesso de violência ou qualquer sensualidade ou obscenidade, até ser
completamente abandonado em janeiro do ano passado.



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